PARA NÃO ME PERDER NO DISCURSO DO OUTRO, DO PRÓXIMO, TENTO ENCONTRAR O MEU.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Sobre o amor

(...) Ele diz: Eu te amo. E o que a gente ouve não é: “Eu te amo tanto quanto posso dentro das limitações dessa relação e desse momento de vida, dentro das minhas próprias limitações, dos medos e dos meus fechamentos.” A gente ouve: “Eu te amo totalmente, para sempre, sem que nada, antes ou depois do nosso encontro, supere esse sentimento”. Ele fala de si, e nós ouvimos o cosmos. Ele fala do hoje, e nós entendemos o eterno.

A culpa é nossa, então, por ouvirmos errado? Não. Ele também, ao falar dentro de sua pequena dimensão humana, está se iludindo com as grandes medidas. Ao dizer “eu te amo”, assume o papel do grande amante, torna-se o amor absoluto, encarnado.

(...) em matéria de sentimentos, essa noção acaba sendo subjetiva. O amor que é absoluto para mim pode não sê-lo para a pessoa à qual é dirigido. E isso porque, enquanto minha emoção amorosa me preenche por inteiro, dando-me a impressão de que não existe mais possibilidade de amor além dela, objeto do meu amor, que, por razões pessoais, não se sente por ele preenchido, pode considerá-lo insuficiente e, como tal, bem aquém do absoluto.

Além do mais, o amor não é inelutável. Não podemos viver sem ter nascido, nem podemos viver sem vir a morrer. Mas, apesar de nossas fantasias em contrário, podemos perfeitamente viver sem grandes amores, coisa que, aliás, acontece com a maioria das pessoas. O amor é parte da vida, mas apenas uma parte, e nem de leve tão indispensável quanto, digamos, a alimentação. À luz da realidade mais imediata, e, por mais que a idéia nos desagrade, o amor é uma necessidade menor.

Nem o amor é uma experiência única. A quase totalidade das pessoas abriga em sua vida diversos amores. E, embora o tempo e o distanciamento afetivo acabem por diluir nossa capacidade de revivê-los por completo na lembrança, conservamos, se não a emoção, pelo menos o registro daquela intensidade. Assim, a lembrança dos amores passados é vencida para permitir o acontecimento de novos amores, mas não é apagada.

Apesar disso tudo, e, apesar de sabermos disso tudo, continuamos querendo o amor absoluto. Mas há mais um empecilho na rota da sua conquista: a exigência da reciprocidade.

Em termos literários, um grande amor pode existir mesmo sem resposta; o amante suspira na sombra, se acaba de paixão, sem que o objeto de seus sonhos lhe dirija mais do que um olhar. Mas na vida real, o que queremos, para que o amor se complete física e efetivamente, é que o outro também nos ame. E achamos que nosso amor só se transformará realmente num amor absoluto, na medida em que a intensidade do amor do outro for gêmea idêntica da nossa intensidade.

O amor não é mensurável. A duras penas sabemos do nosso próprio amor, quanto mais daquele outro. O que acostumamos fazer para resolver o impasse é medir o amor do outro usando o nosso próprio amor como metro. Ele diz “eu te amo”. Nós respondemos “eu também te amo”. E deduzimos que as duas coisas são idênticas e que aquele amor, como a vida e a morte, representa um todo, como elas, indissolúvel, e, portanto, como elas, absoluto. Está demonstrado o teorema, como se queria.

Um perigoso teorema, na verdade. Porque, em cima dele e da sua inconsistência, começamos a construir justamente aquele castelo que queríamos mais sólido e mais seguro.

Marina Colassanti, E por falar em amor (com adaptações)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Queda Prohibido

Queda prohibido llorar sin aprender, levantarte un día sin saber que hacer, tener miedo a tus recuerdos.

Queda prohibido no sonreír a los problemas, no luchar por lo que quieres, abandonarlo todo por miedo, no convertir en realidad tus sueños.

Queda prohibido no demostrar tu amor, hacer que alguien pague tus deudas y el mal humor.

Queda prohibido dejar a tus amigos, no intentar comprender lo que vivieron juntos, llamarles solo cuando los necesitas.

Queda prohibido no ser tú ante la gente, fingir ante las personas que no te importan, hacerte el gracioso con tal de que te recuerden, olvidar a toda la gente que te quiere.

Queda prohibido no hacer las cosas por ti mismo, no hacer tu destino, tener miedo a la vida y a sus compromisos, no vivir cada día como si fuera un ultimo suspiro.

Queda prohibido echar a alguien de menos sin alegrarte, olvidar sus ojos, su risa, todo porque sus caminos han dejado de abrazarse, olvidar su pasado y pagarlo con su presente.

Queda prohibido no intentar comprender a las personas, pensar que sus vidas valen mas que la tuya, no saber que cada uno tiene su camino y su dicha.

Queda prohibido no crear tu historia, tener un momento para la gente que te necesita, no comprender que lo que la vida te da, también te lo quita.

Queda prohibido no buscar tu felicidad, no vivir tu vida con una actitud positiva, no pensar en que podemos ser mejores, no sentir que sin ti este mundo no sería igual.

PABLO NERUDA

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

João e Maria

Os sentimentos foram construídos pela linguagem do olhar. Não havia encontros de palavras ou toques. Havia na verdade uma barreira, um espaço que separava João e Maria. O rio perene dividia seus mundos, a água cristalina refletia ambas as imagens com uma perfeição de cores dos desejos mútuos. Sem pontes e barcos que pudessem promover uma aproximação, o amor foi nutrido no ritual diário de se olharem por alguns instantes, à margem do rio. A barreira tornava-se cada dia mais invisível, era como se fosse apenas um vidro transparente que naquele instante impedia que os dois comungassem um afeto, uma carícia. O importante é que havia algo singular, o olhar. “O olhar é muito mais do que função fisiológica. É uma linguagem forte. È um universo carregado de sentido. É condensação do mistério do homem. Relata o destino de muita gente. Provoca alterações decisivas na vida”. Seguro dos sentimentos, apesar das adversidades, João finalmente resolveu mergulhar no rio e partiu para encontrar Maria, lá do outro lado, na particularidade do seu mundo, seus mistérios e segredos... tomados pelo sentimento do amor, João e Maria, embalados pelo pensamento de Octávio Paz: “Amar é despir-se de nomes...” revelaram-se, e na cumplicidade finalmente das palavras - as promessas, os sonhos, os desejos, as prioridades... ambientados em contextos diferentes, João sentia-se preso e Maria via-se alçando vôos, descobrindo novos caminhos... ambos concretizaram o amor que outrora fora configurado no olhar. Semearam desde então a força torrencial da paixão e foram embebidos pela magia da felicidade, deleitaram-se no prazer, e no leito do amor, as júrias, os planos mas... João e Maria se perderam, é exatamente isso: se perderam... há situações que simplesmente nos fogem as explicações, ficam silêncios, dores, questionamentos. Reabilitados em suas realidades, certamente partilhando da mesma saudade, João e Maria se afastaram daquele rio que embora retratasse divisão também os aproximavam, e assim, reconstruíram com solidez vidas individualizadas. O tempo passou, e ambos seguiram seus destinos, levando um do outro, talvez saudade, a descoberta do amor, um pouco de dor, a ausência de um entendimento, um silêncio interpretativo, dúvidas... o rio caiu no esquecimento, João e Maria já não os visitava como antigamente, muito raramente por coincidência eles se viam cada um do seu lado, mas fugiam do olhar. Um dia João e Maria se reencontraram de verdade, corpo a corpo, e embora não houvesse mais a vidraça que lhes permitiam apenas o olhar, que fecundou a história de amor, João e Maria pareciam dois estranhos, negaram a presença da matéria e renunciaram para sempre o encanto daquele olhar... João e Maria sequer se encararam na busca de revelar seus monstros, suas raivas, suas angústias... certamente João e Maria temiam seus olhares, porque eles novamente poderiam revelá-los.
Acredito que João e Maria têm medo de descobrirem realmente a essência dos seus sentimentos hoje.
Não é difícil compreender as atitudes de João e Maria, eles são humanos, e o ser humano carrega consigo mistérios. Tudo isso na verdade, é um grande mistério. (HODIE)

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Uma lágrima

Nesta manhã, uma lágrima rolou me fazendo refletir sobre sua dimensão de significados. Ela representou purificação, renovação... outro dia lia algo de Mário Quintana que dizia: “há noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer”, evidenciando que é melhor se arrepender de ter feito algo, porque teremos um retorno bom ou ruim, do que divagar em questionamentos internos pelo resto de nossas vidas na perspectiva do que poderia ter sido. È muito bom está completamente livre de remorsos e carregar um nível de satisfação perante as coisas um dia vividas e que através de flashs de memórias nos roubam o pensamento, a saudade ou uma lágrima... sorrir, assim como chorar são manifestações espontâneas, atrelada as sensações. Lembrar de algo ou alguém, da firmeza de um abraço, da comunhão de uma gargalhada, da partilha de uma dor, da suavidade de uma voz, de palavras sussurradas deságua sempre em expressões configuradas em lágrimas ou sorrisos, sorriso este tímido e bobo... reviver e trazer-te para perto através da lembrança, materializada na lágrima desta manhã é a representação sintomática de uma existência feliz ou não, que vai depender sempre da minha perspectiva diante das relações, dos comportamentos e das posturas e decisões tomadas... a lágrima exerce o sinônimo de parceria, ela sempre me acompanha seja nos estados de êxtase, euforia, alegria, dor ou sofrimento, às vezes, denota a coerência da fragilidade, por vezes, da resistência. As glândulas lacrimais, sempre fecundas promoveram hoje redenção. Sentindo-se livre a ao mesmo tempo isento aos remorsos, é fácil confessar o anseio de fabular novas histórias, readquirindo formas e jeitos imaginários... (HODIE)

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A Rosa e o Botão

Quando alguém encontra seu caminho precisa ter coragem suficiente para dar passos errados. As decepções, as derrotas, o desânimo são ferramentas que Deus utiliza para mostrar a estrada.
Paulo Coelho

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

"Para compreendermos o valor da âncora, necessitamos enfrentar uma tempestade." (Eleonor L. Dolan)

Carrego comigo uma enorme dificuldade de desprendimento de todos os sentimentos e carinhos que um dia foram materializados, sempre foi assim... difícil jogar na lata do lixo a velha agenda de telefones, o caderno inutilizável quando cursava o ensino infantil, a caneta que acabou a tinta, mas que está associada ao presente um dia ganhado... cresci, e até hoje mantenho numa caixinha, as cartas, os bilhetes, os cartões comemorativos, enfim, lembranças doces e amargas da construção de uma vida. Tenho todos os presentes, as cartas partilhadas, os e-mails recebidos. Às vezes sentado no meu quarto, revejo tudo isso e reencontro sorrisos, palavras, promessas... não se trata de fuga, nem de desejos, não sinto alegria eufórica, nem dor ou sofrimento, mas reconheço que preenche de certa forma, vazios... Confesso que gostaria de ser bem menos: menos nostálgico, menos exigente comigo mesmo, com os sentimentos, com a teimosia, com os afetos. Mas, como diria Florbela: “O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito...”. Sempre acreditei na reconstrução, e muitas vezes, construindo pensamentos, recorri numa espécie de subterfúgio ou esperança a temática sugestiva, mas a verdade é que nunca consegui reconstruí amores ou sentimentos... já tentei encontrar outras formas, novos jeitos e olhares diante das pessoas que marcaram de uma forma singular a minha vida, mas não mais as reencontro, porque além do corpo matéria, minha alma é enigma, é mistério, que aliados aos meus conceitos de um eterno romântico são contraditórios diante da atitude e da forma. Ser romântico é ser preso e livre, é entender uma dimensão de entrega, de busca, de ousadia, coragem e principalmente de transparência. É guerrear, lutar com todas as forças por algo ou alguém movido pela crença do amor. É marcar no instante, ratificar o carinho através da música, da palavra, da poesia. É despojar-se dos segredos, é ser, é ter (cor)ação!... já me disseram: “o teu problema reside na necessidade de retorno imediato”, “você é muito pegajoso”... são fragmentos que denotam meu jeito de amar. Affonso Romeno de Sant’anna no poema o amor e o outro afirmava: “não amo melhor, nem pior que ninguém / do meu jeito amo. Ora esquisito, ora fogoso, às vezes aflito ou ensandecido de gozo. Já amei até com nojo /...” E é exatamente assim, eximido de receios e medos que te busco incansavelmente, e quando é chegado o momento de sair de cena, fechar as cortinas e partir, me vem na lembrança versos de Quintana: “Amar é mudar a alma de casa”, e quando tudo escancara para o fim, estou em busca de uma nova morada, encontrando em Machado a explicação reflexiva do final: “esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em o que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito”. Daí o quanto é perceptível que para mim, reconstruir é impossível, que embora carregando aquela caixinha de carinhos materializados, há a escassez de essência. Tudo foi consumido, extinguiu-se – pereceu! (HODIE)

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Ao Entardecer

"... tente ser feliz (...), somos criaturas misteriosas, (...) eu deveria ter ido velejar (...) é a nossa estrela (...), ainda preciso te dizer algo (...) as pessoas do passado podem ser reais ou não (...), não, fizemos o que tinha que ser feito ..." esses são alguns fragmentos de texto dos diálogos narrados no filme "ao entardecer" dirigido por Lajos Koltai, drama baseado no popular livro de Susan Minot. Conto vivido em dois tempos, reúne uma geração de mulheres, duas grande amigas na juventude e o reencontro nos dias de hoje. Diria que o filme está próximo da perfeição, além de muito emocionante, ele nos provoca principalmente uma releitura diante da vida, o que fazemos com a nossa história, como lidamos com o nosso destino, com os amores, com o medo, com a insegurança. Retrata fielmente como nos comportamos diante dos fatos e dos sentimentos, instiga a reflexão, insulta nossas atitudes, nossos valores e princípios. Uma narrativa que convoca, aliás, evoca o repensar, o reconsiderar. A história revivida por Ann, quando já debilitada em seu leito ao lado de suas duas filhas, marca de uma forma muita especial as minhas sensações. A sensação de que diante da impotência resta-lhe apenas as lembranças de toda uma vida, marcada por suas exigências, que sem direito a ensaios se tece ao longo da nossa história... é chegado o momento de retratar apenas tudo que se passara, e diante dos questionamentos a chave que transforma a vida de suas filhas e porque não naquele instante a sua própria. Questionar e narrar toda a sua história, pode representar dor, angústia, arrependimento pelas coisas não vividas, mas prefiro entender que o relato se aproxima também da necessidade de reconhecer e admitir que tudo que fazemos durante a vida, as decisões tomadas, os caminhos abraçados, deixar-se levar pelo percurso das águas, respeitando a torrente, são resultados assertivos de escolhas que "pareciam" naquele momento o melhor, visto que o destino por vezes se reveste de uma força e de uma capacidade impositiva. E assim somos todos nós, resultados de encontros, despedidas e segredos... memórias! Relatos de uma vida, de construções inacabadas e principalmente de redescobertas, de aprendizagens. Lembro-me de alguém que parafraseando Milan Kundera me dizia: "todos nós temos a necessidade de ser olhados", e assim fugindo de que: "Eu não tenho missão. E é um alívio imenso perceber que somos livres, que não temos missão" do mesmo autor, que o que realmente vale nessa vida é o instante que passa e que este deve ser construído na espontaneidade, na temporalidade. (HODIE)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Reconstrução

O sentido das marés corre ao balanço da vontade do criador. É inútil tentar mudar nossos caminhos, quando a maré nos leva para sentidos opostos. Seria muito mais fácil se pudéssemos desenhar as coisas à nosso bel prazer, mas não somos os donos do mundo e nem tampouco temos o poder de mudar o curso das águas. Nossos atos as vezes nos afastam de quem mais amamos, quando na verdade tudo que queríamos era tê-los por perto. É fácil trazer para si o que não é real e nem verdadeiro, é fácil se auto enganar como uma forma de substituir, de suprir a ausência, de buscar o novo, pela necessidade humana de reconstrução. Difícil mesmo é trazer para nós aquilo que verdadeiramente nos completa. Somos, muitas vezes fadados a aceitar com resignação que nosso barco navegue no sentido das águas que a maré nos impõe, porque não se pode lutar contra as correntezas, não se pode navegar em sentido contrário. Duro mesmo, é seguir viagem, mesmo sabendo que aquele não era o desejo do nosso coração. Mas no amor há desencontros e não há porque sofrer, não há porque lamentar... o nosso destino é traçado... o que tem de ser, um dia será. Ao final resta o estar otimista, encarar a vida de braços abertos. Esperar que o sentido das marés, na beleza do mar, que leva nosso barquinho, tenha um propósito ou uma estratégia especial que nos direcione a algo bem maior do que tudo que um dia sonhamos. (PULCRA)


quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Sexta-Feira!

Mais uma sexta-feira que se aproxima, sextas-feiras que trazem a tua imagem multifacetada... São lembranças e saudades configuradas nos encontros e partidas, carícias, palavras e salivas que permearam as intensas noites de sexta. É na sexta que a tua ausência se faz mais presente no inimaginável, é na sexta que cores e brilhos perdem a vitalidade. Sexta era sentido, era direção! Milan Kundera sugeria que "quando nos defrontamos com alguém que é amável, atencioso e delicado, é muito difícil ficar convencido a cada instante de que nada do que é dito é verdadeiro, de que nada é sincero". Reside aqui a teimosia de estar totalmente preso as tuas posturas que pareciam sinônimos de sinceridade... reside aqui a esperança reconstruída em cada sexta, porque nela está contida nossas promessas, sonhos e desejos, é na sexta que comungamos (n)a saudade... tem sido doloroso e difícil arrostar o amanhã, o amanhã que é sexta-feira, é isso... Ela tem sido acima de tudo contristada. Sei que é necessário e possível recolorir as sextas, reencontrar suas formas, reconstruí-la em sentido, aliás, se faz necessário acima de tudo reformatá-la, criar novas conotações... Sexta-feira requer renascimento como sabiamente descreve Lya Luft: "então algo mudou: o tom da voz, o olhar que se esquiva, a mão que se afasta. A porta precisa ser fechada, a ponte levantada, queimados os navios. Levaremos meses, anos estendendo as mãos para um vazio, interrogando uma ausência. Encarar a realidade é um modo de morrer. Mas sem isso, não haverá renascimento". (HODIE)

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Mundo novo, vida nova

Os versos do mestre Gonzaguinha, "buscar um mundo novo, vida nova / e ver, se dessa vez, faço um final feliz..." *, me remete a idéia de que o novo se configura principalmente no desejo enraizado de acertar, da possibilidade de construir algo sólido, maduro, consistente! Vida nova conota-se pela abertura de enveredar-se em novos caminhos, sejam eles profissionais ou afetivos. Inspirado nas leituras e conversas cotidianas, diria que vida nova projeta-se exatamente na busca da primeira impressão, da saudade, do desejo de amar e se ratifica no como é difícil essa assertiva, considerando que vivemos no século da presa, do transitório, da fuga de responsabilidades, da falsa idéia de auto-suficiência... mortificados pela ansiedade, queimamos etapas, promovemos desencantos, restando apenas sintomas de solidão e de impotência... para impressões é necessário sensibilidade, franqueza no olhar, sinceridade no toque, requer acima de tudo a gentileza e a sutileza da palavra... é preciso deixar aflorar e prevalecer o que há de bom nessa matéria humana, por vezes, contraditória! É libertar-se das fraquezas, das tentativas anteriores que foram sinônimos de insucesso e depositar a esperança no novo, na vida e a cada instante vivê-la de forma intensa, verdadeira, porque certamente o final feliz, como sugere a canção, reside no instante que passa, e este deve(ria) ser perene... "... em forma, jeito, luz e cor..." ** (HODIE)

*Fragmentos da música: mundo novo, vida nova.
** Idem. Gonzaguinha - CD de Elis Regina - Saudades do Brasil

Invadir

Invasão para quando as portas se fecharam e você ficou sem explicação. Mas se for invadir, não seja covarde, essa pode ser a sua última oportunidade. Diga que ainda deseja ficar. A vida é breve, as conclusões são rápidas, quando as portas estão se fechando, é o milímetro mais valioso que o metro, portanto não fique estático, siga! Mesmo que o caminho não seja o mais reto. (PULCRA)

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O verbo...

Eu escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível. Fixava vertigens. (Arthur Rimbaud)
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Algumas vezes o amor te faz tatear no escuro, tu o sentes e tu o vives, tu consegues respirá-lo. A tua idealização é tamanha, que o teu amor te basta. Sem que tu percebas, tu estás vivendo tudo sozinho; amando sozinho, sentindo sozinho. Até que esse amor te faz perder o sono na busca de algo que te explique os porquês. E é no silêncio da noite que tu consegues te transpor para o intransponível, ao escutar a voz abafada do teu coração enfermo, fadado a vivenciar a cina dos românticos; hora essa, em que tu te superas, tentando exprimir o inexprimível; coisas que só existem na tua imagem vertificada. Por todo esse processo doloroso tu passas, até te dares conta de que amar é um verbo que não se conjuga sozinho (Pulcra)

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Outro dia falávamos que o verbo amar é um verbo intransitivo e hoje, a conclusão de que é impossível conjugá-lo sozinho. É necessário que haja fusão, comunhão de corpos, desejos, ideais... nas aventuras do conhecer, quando estamos dispostos a aprimorar nossos sentimentos, quando permitimos construir o amor, nutrir sentimentos, é perfeitamente natural tatear-se na escuridão, é descobrir e redescobrir-se, é permear-se no contraditório, é como ter alegria e sentir dor, angústia e cor, é reencontrar-se na saudade, vestígios de lembranças fragmentadas... prender no mesmo jugo, ou seja, dissecar o verbo não é tarefa de primeira pessoa, é para o nós... é muito bom ser romântico, ser poeta, embora certamente estejamos fadados a nunca encontrar o amor que almejamos, que acreditamos e que idealizamos. Para nós, o conceito de amor é transcendente, sublime. E será sempre movido por este entendimento, ancorado pela esperança que passaremos por novos processos dolorosos, novas experiências carregadas de expectativas, encantamentos e paixões numa incessante busca de encontrar a essência... (Hodie)

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Navegar

Milan Kundera dizia sabiamente que "não existe meio de verificar qual é a boa decisão, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida?" E é dessa forma, sem direito a ensaios que vamos construindo nossos sonhos, realizando nossos desejos, respeitando nossas vontades. O amanhã sempre será um mistério desvendável e é nessa perspectiva que se vive o hoje, somente assim poderemos superar o medo que é extremamente compreendido considerando nossa dimensão humana. Ter medo nem sempre é sinônimo de fraqueza, muitas vezes são resultados de experiências oriundas, que fadaram ao fracasso e que teimam, insistem em sinalizar o pára, o fim... certamente quando essas questões permeiam a nossa mente é porque ela já está domada por sentimentos impossíveis de precisar... o medo aí, começa desempenhar um mero papel figurante, visto que amar, perder-se para encontrar-se é a personagem central dessa trama, cujo único foco é a esperança de lançar a flecha certeira no alvo. A esperança sim, é a personagem coadjuvante que exerce primordialmente o exercício da fortaleza, da crença e da lealdade. Ela se reveste quando assumo o compromisso da permissão. Ela direciona caminhos e atitudes... ensaiar a vida é impossível, simular talvez uma alternativa, porém, prefiro intensamente vivê-la, vulnerável mais uma vez, sem jamais trair meu caráter. Vejo-me pensando no embarque, o navio está logo ali e nós estamos no cais, comungando medos e incertezas, dentro de alguns instantes o navio vai partir em alto mar, que parametriza desconhecido e descoberta, abismo e imensidade... eu quero navegar nesse mar, conhecer sua força, sentir sua fúria, mergulhar na tua beleza, tornar-se cúmplice, extrair o que há de bom, de puro... quero a aliança para enfrentar a deriva, quero teu amor para sentir, para me reconhecer... (HODIE)

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Redescobrir...

Hoje amanheci submerso em lembranças. Meu corpo, renovado pela esperança. Teu cheiro, impregnado na minha pele. A euforia de outrora, harmonizada em sussurros, agora é estado pleno. Sensações, palpites e desejos, tessituras compostas. Recordar o percurso do olhar, o gosto do primeiro beijo, a segurança do abraço e o corpo vibrar são rituais de redescobertas, sensações de leveza... Florbela escreveu: "Ser Poeta", "... é ter cá dentro um astro que flameja, é ter garras e asas de condor! / É ter fome, é ter sede de infinito (...) E é amar-te, assim, perdidamente..." Pensar o amor, basta imaginar o nascer do ninho, sua base alicerçada por sucessivos ramos que se entrelaçam e se fortalecem para gerar a vida, reflexos de dedicação e muito afeto. Afeto, enlace e comunhão... caminhos... aqui estou, reconstruindo, feliz, um parvo confesso! (HODIE)

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

A criação literária

"Escrevemos como Proust, para tornar as coisas eternas e para nos convencermos de que elas o são. Para transcedermos nossa vida e alcançarmos o que existe além dela. Escrevemos para aprender a falar com os outros, para testemunhar nossa viagem no labirinto. Para abrir, expandir nosso mundo quando nos sentimos sufucados, oprimidos ou abandonados. Escrevemos como os pássaros cantam, como os primitivos dançam seus rituais. Se você não respira quando escreve, não grita, não canta, então não escreva porque sua literatura será inútil. Quando não escrevo meu universo se reduz; sinto-me numa prisão. Perco minha chama, minhas cores. Escrever deve ser uma necessidade, como o mar precisa das tempestades - é a isto que eu chamo, também, respirar." (NIN - 1987)

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

O encontro...

Primeiro a troca de olhar, a aproximação, a partilha do diálogo... um brinde, o gole, a boca, a língua! Tudo assim: inesperado, envolvente e ofegante, desaguando em mais uma tentativa, reacendendo a esperança. A espontaneidade das palavras no discurso narrativo da vida, provocou segurança, a minha sensibilidade foi o parâmetro sinalizador: siga! A ansiedade era notável, parecia mútua, verdadeira. O encontro até então estranho, casual, diferente, ousado e inovador tornou-se mais familiar... sutilezas e gentilezas coloriram esse dia até então comum, íngreme. O cenário da fusão era ratificado no toque e na linguagem dos olhares... a noite cumprira muito bem o seu papel de testemunha, aliada e cúmplice na descoberta e na revelação de encanto e medo, ficar ou partir sufragados no enredo do encontro, em cada segundo que se passara... ah, diria que o tempo e o mundo se rendaram ao nós... restam-me agora, além de boas lembranças, a expectativa do amanhã...(HODIE)

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Magia

Penso em ti, em alto forte e bom tom. Fecho os olhos e chamo o teu nome, para que, mesmo no silêncio, a força do meu pensamento atravesse nossas barreiras e visite o teu ser.

Imagino que tu ao longe, escutarás e sentirás o meu grito e que nessa hora estará a minha imagem e tudo o que a gente viveu a permear tuas lembranças.

E tu saberás que só um amor grande e verdadeiro, é capaz de resitir ao tempo, a distância e até mesmo... ao silêncio. (PULCRA)

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Indiferença

Simplesmente tomado por lembranças ou saudades, ora submersos nos sentimentos, as palavras vem a cume como uma espécie de mágica... elas fluem naturalmente assim como deveriam ser os encontros e as partidas. Escrever ou meramente traduzir em palavras o que carregamos cá dentro é acima de tudo um exercício de externalizar quem somos e/ou queremos ser. Talvez assim como o treino objetiva preparar o atleta para o jogo, a linguagem seja o mecanismo de auto conhecimento ou um método de compreender através do discurso o pouco que somos, o processo de maturação que passamos e o desvendar de mistérios que se descobre em cada ato, cada nova conquista e assim sendo, a justificativa para com aqueles que conseguem deixar em maior evidência o talento de lidar com a arte da palavra. Há momentos que mesmo sem inspiração e é nesse estado que me encontro agora que surge o desejo de escancarar, denunciar, clamar, gritar, sabe-se lá exatamente o que, sabe-se porém de uma estranha sensação de inquietude... inquietar-se por vezes é extremamente necessário, desassossegar é ao mesmo tempo sinônimo de incomodar, como sugere Lya Luft, é preciso agarrar o touro pelos chifres e mergulhar de cabeça para sentir ou livrar, ou melhor, sentir-se e livrar-se... viver intensamente cada instante talvez não seja a melhor alternativa, mas certamente também inquietar-se diante de algo pela falta de retorno ou iniciativa é agonizante, é a velha faca de dois cumes... a literatura desempenha aqui seu papel de companheirismo, de lealdade, que nesse jogo onde não há cartas marcadas se funde a transparência da minha verdade, verdade ímpar dos meus sentimentos, expelidos através dos meus poros... o meu corpo que é racional não consegue compreender o conceito de encontro e partida atrelado a similaridade de afeto e desafeto, amor e indiferença... a minha alma que habita essa matéria é que está inquieta, tentando compreender por vezes o incompreensível... é dificil deixar-se conduzir pela interpretação diante do enigma da indiferença... Porque agir assim? Porque não deixar evidente razões para que haja a minha compreensão? Ou será que está tudo tão claro e pela minha eterna teimosia, ancorada por toda a magia do encontro, tudo é tão escuro? É... talvez eu tenha a necessidade de compreender melhor as partidas... resta-me por enquanto o grito, a palavra... (HODIE)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Espera

às vezes, é chegado o momento de arriscar...

dúvidas, incertezas sempre vão permear nossos processos decisórios. A euforia de um momento pode ser atingida pela "chantagem" emotiva de um companheiro, que quer te ver no inicio da noite ou de um compromisso inadiável no decorrer na tarde, porém, é preciso enfrentar esses medos para vivenciar o que vem sendo amadurecido no pensamento, respeitar nossos desejos, ao invés de fugir, correr para s(t)eus braços. Deixar-se acalentar-se pelo calor do corpo, pela firmeza do abraço, pelo gosto do beijo... permitir as sensações, é isso! Partir para a praticidade do (re)encontro, torná-lo fértil, produtivo, fecundo, feroz, úbere... não às culpas, não às fraquezas e fragilidades humanas. É preciso deixar prevalecer a vontade, a alegria, a expectativa. Enquanto o mundo vai girando e cada um vai construindo sua história, estou a destapar, deixando fluir o que carrego de bom, de especial... anunciando, revelando, aprendendo e acima tudo, vivendo!!! (HODIE)

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Filme - Era uma vez...

Ontem acompanhei o filme Era uma Vez, produção brasileira do diretor Breno Silveira que conta a história de Nina e Dé, jovens totalmente distintos em suas realidades de vidas ambientadas no Morro do Canta Galo e a Praia de Ipanema no Rio, as diferenças sociais são marcadas pela diversidade linguistica, pela vida na favela e no bairro nobre, pelas festas na extensão da sala ou nas escadarias do morro. Curiosidades, amor, descobertas, carências invadem o enredo que mostra uma cidade violentada pela desigualdade social, pela marginalidade, falta de expectativa e domínio de poder. Gostaria de sair do foco fictício do romance, uma adptação moderna de Romeu e Julieta, para falar exatamente sobre aquilo que mais me prendeu: o universo da favela que aparentemente tão distante está tão próximo de nós... próximo quando nos deparamos com uma linguagem pejorativa, carregada de gírias na produção do discurso. Próxima por que diariamente encontramos nas ruas, praças e becos uma população cada dia menos culta, desprovidas de uma educação de qualidade e de alguns valores que aprendemos um dia e se perderam nessa imensidão de homens rudes, analfabetos e excluídos. E assim fica evidente que vivenciamos no atual contexto social a palavra de ordem que se chama indiferença, ou seja, não estou nem aí para a quantidade crescente de problemas sociais que invadem a minha casa, o meu trabalho e a minha família. Talvez se parássemos com os discursos hipócritas, deixássemos um pouquinho de lado o nosso egoísmo, poderíamos construir uma sociedade mais humana e digna. Talvez o Rio pudesse sim, dizer em alto e bom tom: cidade maravilhosa! Certamente o Brasil tão conhecido lá fora por suas belezas naturais e pelo seu povo "acolhedor", e isso parece contraditorio, exercesse melhor sua cidadania e assim sendo, viveríamos finalmente a sonhada paz... (Hodie)

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Nostalgia


Onde quer que eu vá, levo comigo uma certa nostalgia daquilo que não se pode compreender. Algo tão insólito que me faz pensar e repensar milhões de vezes sobre questões que não são minhas, exatamente.Me inquieto no mal alheio e nele estabeleço meu caos! Sem prudência, defendo e mergulho n’algo que, se antes era irrelevante, agora se faz essencial.Já quis ser poeta, almejei glórias, fortunas, mas descobri a tempo que a única e primeira glória do homem é o amor e a humanidade à flor da pele!Considero que o livre arbítrio deva se exercitar à intuição, senão seremos tão dispersos como folhas ao vento.


Ana Beatriz Figueiredo Mota
(Elo conectivo)

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Esse texto vem ratificar a idéia de que é totalmente humano ser um nostálgico, sentir saudades, vivenciar saudades... estabelecer caos, buscar entendimento, carregar a necessidade e a sensação de que há sempre algo novo a ser desvendado e vivenciando, traduz muito bem nossos desejos de mudança. Querer ser poeta ou ser um poeta, reconhecido ou não, é uma das ferramentas para traduzir em versos e poesias nossos desejos, desejos nostálgicos e aqui cabe os desejos chagados, dimensões que habitam exatamente nessa essência humana, por muitas vezes frágil, vulnerável, mas que carrega uma admirável teimosia de crer na vida, no amor, nas pessoas... sejamos inquietos, instigantes... embora não seja um credor da numerologia, outro dia me surpreendi com um mapa astral que dizia algo marcante em minha natureza: ...onde as pessoas vêem apenas "situações", você vê infinitas possibilidades... Talvez aqui, eu tenha exercitado muito bem o livre arbítrio. É preferível pensar em possibilidades a meras situações, vista que essas cessam. Carregar o sentido de infinito é acima de tudo carregar a capacidade de recriar, recriar-se. Reconstruir, refazer, reestabelecer são sinônimos daqueles que não se permitem parar diante de uma primeira limitação, como sugere o poeta Virgílio Ferreira: "... o ilimitado é o limite de todos os limites..." assim, a cada dia me convenço de que passar pela experiência terrena como mero espectador é agonizante, deprimente, desprezível... porque não aceitar por vezes nossa intuição, agir movidos por essa sensação respaldada por um força superior que foge ao nosso mero entendimento, mas que sentimos com clareza a conspiração do universo? Sugiro também respeitar nossos desejos, aceitá-los, vivenciá-los por mais que esses possam parecer abomináveis aos olhos de alguns, que certamente se encaixam na nomenclatura da hipocrisia... assim, procuro sempre deixar minha marca em todos os aspectos, sejam eles profissionais ou afetivos. Vivo cada dia fomentando a minha história... e você? (HODIE)

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Eu fecho a minha boca e guardo o meu grito, entrego ao silêncio essa nuvem nostálgica, não quero dizer que ela me visita, não quero sentir que ela me abala. A voz que cala é a garganta que seca por rejeitar a dor que ninguém ver. É a saudade de algo que nem a mim se faz saber. Isso é nostalgia. Sensação de quem espera pelo trem que passou, pelo barco que naufragou, por tudo que ficou, que já deveria estar há muito esquecido e que, no entanto, se eternizou...... (PULCRA)

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Figura de Linguagem

Na construção dos meus versos e poesias, a tua imagem transfigurada em palavras. Hoje não consegui parar de pensar em você, na essência do teu ser. O teu ser e o meu querer são mais que verbos no infinitivo, é conjunção, aliás, conjugação. Como é gostoso a língua – doce ambigüidade – pensar em areia e mar, ave e ninho, casa e botão metaforizando o nós. Neste sentido, confesso morrer de saudade, que meu coração está ardendo de desejos. Latejando, batendo, restrugindo, num compasso acelerado... tum, tum, tum!!! Visto que o meu pensamento é a tua figura em linguagens. E tenho você sempre no anoitecer da noite, no amanhecer do dia, na verdade é um vício. E o mais gostoso de tudo leãozinho, neogislar coisas assim... ter você através de um eco, alegremente em mente! (HODIE)

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Dizer "sim", dizer "não"...

A história mais difícil de escrever é a nossa própria, complexa, obscura, inocente ou perversa - bem mais do que são as narrativas ficcionais.
Brinquei muito tempo com a idéia de dizer “sim” ou “não” a nós mesmos, aos outros, à vida, aos deuses, como parte essencial dessa escrita de nosso destino - com os naturais intervalos de fatalidades que não se podem evitar, mas têm de ser enfrentadas.
Acredito em pegar o touro pelos chifres, mas vezes demais fiquei simplesmente deitada e ele me pisoteou com gosto. Afinal, a gente é apenas humano.
Nessa difícil história nossa, dizer “sim” ao negativo, ao sombrio, em lugar de dizer “sim” ao bom, ao positivo, é o desafio maior. Pois a questão é saber a hora de pronunciar uma ou outra palavra, de assumir uma ou outra postura.
O risco de errar pode significar inferno ou paraíso.Também descobri (ou inventei?) isso de existir um ponto cego da perspectiva humana, em que não se enxerga o outro mas apenas um lado dele: seu olho vazado, sua boca cerrada, seu coração amargo. Sua alma árida, ah… O ponto cego das nossas escolhas vitais é aquele onde a gente pode sempre dizer “sim” ou “não”, e nossa ambivalência não nos permite enxergar direito o que seria melhor na hora: depressa, agora.
O ponto mais cego é onde a gente não sabe quem disse “não” primeiro. E todos, ou os dois, deviam naquele momento ter dito “sim”.
Viver é cada dia se repensar: feliz, infeliz, vitorioso, derrotado, audacioso ou com tanta pena de si mesmo. Não é preciso inventar algo novo. Inventar o real, o que já existe, é conquistá-lo: é o dom dos que não acreditam só no comprovado, nem se conformam com o rasteiro.
Nosso drama é que às vezes a gente joga fora o certo e recolhe o errado. Da acomodação brotam fantasmas que tomam a si as decisões: quando ficamos cegos não percebemos isso, e deixamos que a oportunidade escape porque tivemos medo de dizer o difícil “sim”.
O “não” é também um ponto cego por onde a gente escorre para o escuro da resignação.O ponto mais cego de todos é onde a gente nunca mais poderá dizer “sim” para si mesmo. E aí tudo se apaga. Mas com o “sim” as luzes se acendem e tudo faz sentido.Dizer “sim” a si mesmo pode ser mais difícil do que dizer “não” a uma pessoa amada: é sair da acomodação, pegar qualquer espada - que pode ser uma palavra, um gesto, ou uma transformação radical, que custe lágrimas e talvez sangue - e sair à luta.
Dizer “sim” para o que o destino nos oferece significa acreditar que a gente merece algo parecido com crescer, iluminar-se, expandir-se, renovar-se, encontrar-se, e ser feliz.Isto é: vencer a culpa, sair da sombra e expor-se a todos os riscos implicados, para finalmente assumir a vida.
Fazer suas escolhas, assinar embaixo, pagar os preços…e não se lamentar demais. Porque programamos o próprio destino a cada vez que, num tímido murmúrio ou num grande grito, a gente diz para si mesmo: “Sim!”
Lya Luft

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Somos


É preciso encontrar no sol
O calor da vida
É preciso encontrar na lua
A serenidade da vida...

Somos um conjunto de contradições
Somos a construção do cotidiano
Somos o reflexo de uma melodia,
Da direção do vento,
De um crepúsculo...

Somos acima de tudo,
O hiato entre o tempo e o espaço,
O amor e o ódio,
A alegria e a tristeza,
O prazer e a dor.

Resultados da descoberta,
Pois nos descobrimos a cada instante,
E amadurecemos!
Sempre haverá, outras leituras, outras atitudes! (Hodie)

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Ensaiando a vida...

Vivemos num teatro onde nós somos ao mesmo tempo autor e personagem da nossa própria história. No entanto se dar conta disso é o grande problema. Nós estamos muito tendenciosos a achar que vamos ter uma chance para consertar algo que fizemos de errado e, ao mesmo tempo perdemos muito tempo planejando algo que poderia ser mais prático. Enfim, estamos quase que contínuamente fazendo confusões. Tem horas que pensamos que somos personagens de uma história, quando na verdade sem nossa atitude não terá história.
A única coisa que sabemos é que nossos atos são capazes de construir ou destruir alguma coisa e por termos consciência disso acabamos sendo comedidos em nossas ações; por medos, por orgulhos e talvez até mesmo, porque sabemos que a vida é uma peça sem direito a ensaios. E por não saber qual a medida de sal que devemos colocar na receita de viver, acabamos por comer insoço, com medo de salgar o cardápio, pois mesmo sabendo que a vida não permite ensaios, algumas pessoas ensaiam mais do que vivem.
Precisamos ser idiotas um pouco, fazer o que se tem vontade, sem se preocupar com a bolsa de valores e com o aumento da dívida externa. (Pulcra).
...
Pensando na idiotice, no teatro, sugiro que vivamos e sintamos as coisas como se elas fossem o que realmente são: passageiras. Se o teatro representa metaforicamente a vida, comecei a pensar no sentido de passageiro, de momentâneo. O que se figura numa peça não é nada mais do que a epifania de um momento, da reflexão de algo, da representação... talvez sejamos também no palco da vida figurantes de uma dada situação, atuamos movidos pelas cargas de sentimentos que ora carregamos, e é exatamente aí que talvez tenhamos a oportunidade de dizer ou fazer aquilo que vem a mente, visto que é passageiro, é momento... mas tarde certamente teremos outras leituras e nesse mesmo palco a construção de outras atitudes... por isso é preferível lamentar pelo que não se fez, porque assim sendo perdemos a oportunidade de deixar nossa marca. Acredito ainda que nesse ensaio improvisado do viver, as cenas são mais leves quando deixamos fluir com liberdade nossos desejos, vontades e tentamos colocá-los em prática expondo-se porque não ao "ridículo"? Neste peça em que autor se confunde com personagem fica o aprendizado, o tal "momento passageiro" vivido, feliz... (Hodie)

sábado, 2 de agosto de 2008

Sensação de restauração, renovação!!!

A folha, o galho seco, o cheiro de mato, de terra molhada, o vento, a areia, o canto do pássaro, o ninho, a prosa, o verso, a borboleta, a simplicidade de um povo, a sabedoria do mundo, a linguagem carregada de emoção, a vida marcada pelas rugas na face, a velhice confundida com a jovialidade – ah, sertão... Sensação de restauração, renovação! Ao longo do mês de julho/08 pude rever familiares e amigos que há muito tempo não mantinha contato e talvez o mais importante: a comunhão do diálogo e a partilha de histórias construídas no contexto individualizado de cada um. Histórias interessantes e outras bem simples, contadas no exercício da oralidade e na riqueza da diversidade lingüística, um processo de aprendizagem totalmente diferenciado do que aquele que acontece na academia e no mundo corporativo. Uma aprendizagem acima de tudo reflexiva, humana, pautada em valores, em afetos, e na simplicidade de quem encara a vida com mais naturalidade e “normalidade”, considerando que estes só encontram ainda na TV e no rádio, os únicos recursos de tecnologia. Nesse período, pisei em terra firme, terra sertaneja, fértil, onde o contraste do verde e do seco se mescla em suas paisagens cotidianas. Caminhei nos sertões senadorenses, onde ainda não há sinal de telefonia móvel e internet. Pude sim apreciar algo que há muito tempo parecia ter sido abolido da nossa realidade, a mulher sertaneja sentada à beira do rio lavando suas roupas, numa habilidade impecável na condução de um árduo trabalho braçal e o mais curioso: um largo sorriso contagiante. Sabe minha gente, pude também fazer algo que me dá demasiado prazer, assistir o espetáculo da natureza que é o pôr do sol. A magia gratuita carregada de sentido nas tardes do Brasil, da minha Senador Pompeu, terra natal, dos seus sertões, do cariri cearense e da região centro sul do estado. Alguns fotografados, outros apenas registrados na memória.
Falando em Cariri Cearense, estive em Juazeiro do Norte e visitei o Museu e o Horto de Pe. Cícero (Nosso Padim) e acompanhei incríveis manifestações de fé, pessoas vindas de vários estados brasileiros e de todas as classes sociais reverenciando e louvando ao “Santo Padre”, cumprindo promessas, fazendo pedidos e exercendo culturas e crenças populares que crescem cotidianamente no seio do povo. Alguns exemplos: beber e lavar a face com água benta distribuídas em potes de barro dentro do Museu; rodar exatas três voltas em torno da bengala que compõe a arquitetura da estátua, centrando o pensamento num pedido a ser alcançado ou simplesmente escrever carinhosamente um pedido no papel e depositá-lo numa urna gigantesca também localizada dentro do Museu Vivo de Pe. Cícero. Tive a oportunidade também de visitar mais uma vez a grande festa realizada no Município de Crato, a EXPOCRATO, promovida durante o mês de julho e que fomenta a economia local através do turismo, da exposição de ovinos e caprinos, comercialização de produtos agrícolas, inovações tecnológicas e dos estudos e pesquisas realizados pela Universidade Regional do Cariri – URCA. Estive aqui em Fortaleza por duas vezes durante minhas férias e não pude deixar de ir à praia, e de flagrar o contato do menino com o mar. Fui também ao shopping fazer alguns pagamentos inadiáveis e porque não, realizar um passeio socrático. Estive também num sábado desses a noite na ponte dos ingleses (ponte metálica) e no centro dragão do mar de arte e cultura, lugares que aprecio bastante na minha querida Fortaleza. Além de tudo isso fui alimentado pela leitura da Obra de Linhares Filho, edições UFC, intitulado A “Outra Coisa” na Poesia de Fernando Pessoa, um livro de crítica literária portuguesa, alguns fragmentos do Livro "Trilogia suja de Havana", de Pedro Juan Gutierrez. (preciso lê-lo na íntegra) e de prazerosas crônicas de Lya Luft.
Não tenho dúvidas que o texto é transparente o suficiente no sentido que todos possam perceber e sentir meus sintomas de felicidade, como sugere Guimarães Rosa, “felicidade se acha é em horinhas de descuido”, mesmo considerando que embora nem sempre é possível alcançar todos os nossos desejos, alguns até simples mais que tive que deixá-los para logo mais (eu espero), num feriado prolongado quem sabe... e que venham novas férias, viagens e descobertas...
(Hodie)

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Apaixone-se

Fizeram a gente acreditar que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos. Não contaram pra nós que amor não é acionado, nem chega com hora marcada.
Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais agradável.
Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada "dois em um": duas pessoas pensando igual, que era isso que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável.
Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos.
Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são caretas, que os que transam muito não são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Só não disseram que existe muito mais cabeça torta do que pé torto.
Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas. Ah, também não contaram que ninguém vai contar isso tudo pra gente. Cada um vai ter que descobrir sozinho. E aí, quando você estiver muito apaixonado por você mesmo, vai poder ser muito feliz e se apaixonar por alguém". (John Lennon)

terça-feira, 22 de julho de 2008

Autobiografia?

Meu canto é vida
Meu canto é morte
Minha vida é medo
E um pouco de sorte
Como um vento sem rumo...
Um menino sem nome...
Uma nuvem que passa...
Eu vivo.
Vivo minha vida
E outras vidas mais
Buscando o meu e o teu querer
Sem saber porquê
Eu vivo.
Às vezes sou noite
Às vezes sou dia
Às vezes entristeço
Às vezes sou só alegria
Não sou melhor, nem pior
Sou...
Desconfiado da vida
Desconfio de mim mesmo
Durmo acordado
Dormindo sou eu mesmo
Navego em sonhos proibidos
Mergulho em sonhos esquecidos
Beijo a face da criança
Durmo sobre o seio da mulher amada
Intensamente
Eu Vivo!

(Autobigrafia? - Elieudo Buriti)

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Plural

Divaga dentro do meu ser
Sensações de busca
Necessidades de entendimento.
Vejo-me metafoseado a cada instante que passa
Instantâneo como a respiração para a vida
Hora sou dor, saudade, lembrança,
Hora sou esperança, alegria, felicidade,
Hora sou alívio, liberdade, sonho,
Hora sou amor, indiferença, sedução.
Dicotomias...
Tento confessar o inconfessável
Compreender o incompreensível
Ontem eras desejo, roubavas meu pensamento
Mas hoje existe um outro alguém...
Prevalece o instinto de seduzir, conquistar e atacar
Presa ou vítima?
Perdoem-me
Mas, divaga dentro do meu ser
Sensações de busca
Necessidades de entendimento
Sou eu... Plural!

(HODIE)

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Reflexos

No quarto, naquele quarto, no sábado a tarde, na manhã de domingo. O tempo, o frio, o calor do corpo, a rua, nossa rua! O silêncio da noite, o barulho do mar, o abraço partilhado, o adormecer - fecho a porta, todas as portas... a geografia, o encontro, o momento, a sinergia, a fusão, a emoção. As pessoas, o cotidiano, o outro, o nós... o grito, o desejo, o sonho. A dor, a lembrança, a comunhão! A presença ausente, a voz, a pele, o cheiro... o ontem, o hoje, o amanhã, quem sabe agora... estou pensando no tamanho, é isso, no tamanho do mundo, do sentimento. Na verdade estou pensando em você, acho que falei de saudade, queria dizer saudade, da minha saudade, que sou saudade (HODIE)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Pensar é transgredir (Lya Luft)

Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos — para não morrermos soterrados na poeira da banalidade embora pareça que ainda estamos vivos.

Mas compreendi, num lampejo: então é isso, então é assim. Apesar dos medos, convém não ser demais fútil nem demais acomodada. Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem de ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido.

Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo.

Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência: isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante: "Parar pra pensar, nem pensar!"

O problema é que quando menos se espera ele chega, o sorrateiro pensamento que nos faz parar. Pode ser no meio do shopping, no trânsito, na frente da tevê ou do computador. Simplesmente escovando os dentes. Ou na hora da droga, do sexo sem afeto, do desafeto, do rancor, da lamúria, da hesitação e da resignação.

Sem ter programado, a gente pára pra pensar.

Pode ser um susto: como espiar de um berçário confortável para um corredor com mil possibilidades. Cada porta, uma escolha. Muitas vão se abrir para um nada ou para algum absurdo. Outras, para um jardim de promessas. Alguma, para a noite além da cerca. Hora de tirar os disfarces, aposentar as máscaras e reavaliar: reavaliar-se.

Pensar pede audácia, pois refletir é transgredir a ordem do superficial que nos pressiona tanto.

Somos demasiado frívolos: buscamos o atordoamento das mil distrações, corremos de um lado a outro achando que somos grandes cumpridores de tarefas. Quando o primeiro dever seria de vez em quando parar e analisar: quem a gente é, o que fazemos com a nossa vida, o tempo, os amores. E com as obrigações também, é claro, pois não temos sempre cinco anos de idade, quando a prioridade absoluta é dormir abraçado no urso de pelúcia e prosseguir, no sono, o sonho que afinal nessa idade ainda é a vida.

Mas pensar não é apenas a ameaça de enfrentar a alma no espelho: é sair para as varandas de si mesmo e olhar em torno, e quem sabe finalmente respirar.

Compreender: somos inquilinos de algo bem maior do que o nosso pequeno segredo individual. É o poderoso ciclo da existência. Nele todos os desastres e toda a beleza têm significado como fases de um processo.

Se nos escondermos num canto escuro abafando nossos questionamentos, não escutaremos o rumor do vento nas árvores do mundo. Nem compreenderemos que o prato das inevitáveis perdas pode pesar menos do que o dos possíveis ganhos.

Os ganhos ou os danos dependem da perspectiva e possibilidades de quem vai tecendo a sua história. O mundo em si não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui identidade, sem o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem.

Viver, como talvez morrer, é recriar-se: a vida não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada. Eventualmente reprogramada. Conscientemente executada. Muitas vezes, ousada.

Parece fácil: "escrever a respeito das coisas é fácil", já me disseram. Eu sei. Mas não é preciso realizar nada de espetacular, nem desejar nada excepcional. Não é preciso nem mesmo ser brilhante, importante, admirado.

Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança.

Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.

Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.

E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Quixadá

A natureza em sua plenitude e magia encanta generosamente o sertão com belas formações rochosas, de cores e formas, alimentando a alma poética, embelezando os olhos do povo. Assim, os monólitos representam metaforicamente a fortaleza do homem sertanejo, suas virtudes e vaidades. (Hodie)

terça-feira, 17 de junho de 2008

A Busca do Ser

Sinto vontade de ultrapassar barreiras
Trilhar novos horizontes
Gritar, clamar por justiça e igualdade
Chorar, lavar e purificar a alma
Quero amar. Embebedar-me de fantasias
Gozar o que não gozo...

Sinto vontade de abolir preconceitos
Devolver dignidade
Sorrir, ao deparar-se com o sopro do vento
Partir, levado pelo brilho do sol
Quero sentir, conduzir sentimentos
Produzir o que não produzo...

Sinto vontade de acabar com a injustiça
Promover a paz
Querer, quando aguçado pelos desejos
Esquecer, quando reprimido pela sociedade
Quero viver, conhecer o desconhecido
Ter o que não tenho...

... apenas isso;
Ser o que SOU...(HODIE)

segunda-feira, 16 de junho de 2008

No Rio...

Distante da terra cearense, piso em solo carioca. Ao invés do sol típico nordestino, a garoa fluminense. A beira-mar pelo calçadão de Copacabana, de Iracema, musa dos lábios de mel Alencarina a imponência do Cristo Redentor. Do baião de dois ao famoso arroz com lentilha e pimentão recheado no popular Largo do Catete. Vem a arquitetura do Museu da República, a praça, a Igreja da Glória e uma pausa para fotografar. Sucessivos embarques e desembarques no transporte urbano coletivo, à custo de R$ 2,10 à passagem, R$ 0,50 centavos a mais do congelado R$ 1,60 há mais de três anos na minha cidade. No Cosme Velho, uma disputa acirrada por clientes entre guias, taxistas e topiqueiros que fazem da curiosidade do povo, o cotidiano de sobrevivência no cenário do corcovado. Optei pelo trem, R$ 36,00 o bilhete que se considerado o tempo de translado, uma exploração, porém, irrisório diante da sensação de prazer, da apreciação da exuberante paisagem do Parque Nacional da Tijuca - aí, lembrei-me do meu sertão, do contraste de paisagens, mas pude sentir o cheiro de mato... dos olhares dos passageiros a bordo, alguns certamente, novatos como eu, envolvidos pela magia da curiosidade e pela fantasia imaginária. No percurso, um grupo de samba embarca e quebra a concentração. Em cada estação, expectativas. No desembarque a opção do elevador e da escada rolante, preferi optar pelos degraus comum, queria sentir o momento. O Cristo até então visto somente pela tv e visualizado de forma distante no dia anterior de algum ponto do Rio, me recebe de braços abertos, agora junto! Um amigo, apresenta a belíssima cidade lá do Corcovado, uma vista encantadora. No alto, uma sensação de liberdade, a possibilidade de fugir da realidade e habitar por alguns instantes, o mundo dos sonhos. Palavras, imagens, pessoas, desejos e emoção, um pacote! um presente! Na frente do Cristo, como uma espécie de ritual sagrado, praticamente todos os personagens anônimos do cotidiano abrem seus braços para a fotografia "clichê", uma necessidade para ratificar e comprovar o que já habita na memória. Foram alguns dias de trabalho, porém marcado pelo prazer da descoberta. No retorno um pôr do sol deslumbrante durante a ponte área Rio - São Paulo, algo que há muito tempo não apreciava e até reclamava, marcando de um forma muito especial e particular essa viagem. No pensamento itinerante, lembranças inesquecíveis e singulares, um gosto de saudade... um desejo de voltar...(Hodie)

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Amar Você

Sentir a fortaleza do teu desejo, conhecer a intimidade do teu ser, beijar tua boca, abraçar-te, sugar o suor doce da tua pele, conhecer as curvas do seu corpo, roubar teu sorriso tímido, ler teus pensamentos, entender a essência do silêncio, penetrar teu corpo... estou amando, sou amado... lembro-me de Mário Quintana - grande mestre - isso realmente é AMOR e como tão bem dizes... “é quando a gente mora um no outro”... HODIE

quarta-feira, 11 de junho de 2008

...

A folha que caí, o vento que sopra, o menino que corre, o mundo que gira. O rio que passa, o pássaro que canta, a flecha que se lança, o instante, esse instante - o coração que ama... Poesia, simplesmente poesia! (Hodie)

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Amar

Amor é um livro, sexo é esporte , sexo é escolha,
amor é sorte
Amor é pensamento, teorema
Amor é novela, sexo é cinema...
(Amor e sexo - Rita Lee)
...
Amar

Verbo intransitivo tão complexo. A gente nunca sabe quando o amor chega, mas tem a noção real do exato momento em que ele acaba. O amor é assim, às vezes nasce devagarzinho, outras vezes chega de uma vez, sem pedir licença, nos pegando desprevenidos e de surpresa. Na realidade o amor é cheio de dualidades. Tem amor de todo jeito, para todos os gostos e de todos os modelos: amores fortes, amores fracos; amores voláteis e passageiros; amor de um dia; amor de uma vida inteira. Uns dizem que amor, que não é para a vida toda, não é amor de verdade. Cada um tem uma idéia formada do que é o amor. E resta a nós, simples mortais, respeitarmos essas tão variadas formas de amar. Quem ama por um dia acha que o amor valeu, ainda que por um dia. Quem ama por uma vida, também acha que valeu. Alguns amam uma única vez, outros optam por fazer uma "variada festa" dentro do coração. E quando o assunto é sexo o negócio é mais delicado ainda. Há quem acredite que o Amor não sobrevive sem o Sexo e que o Sexo também não pode sobreviver sem o Amor. Nesse prisma temos o paradigma: Sexo e Amor não sobrevivem separados. No entanto existem aqueles que defendem que o sexo pode ser completamente desvinculado do amor. Há quem acredite que um parceiro é o suficiente, há quem vive em busca de novos parceiros.

Há quem crer que fazer sexo é como sentar à mesa de um bom restaurante e pedir o menu; cada imagem, cada forma, pode despertar desejos e fantasias diferentes. E na hora de degustar o que vale é a variedade, não a intensidade ou a qualidade.

Não obstante, existem alguns que são defensores da idéia de que uma parceria única, trabalhada com afinco pode obter melhores sabores e ótimos resultados. Para esses, lapidar o que possui é mais prazeroso do que variar o cardápio. Enfim sexo e amor é algo muito subjetivo. Sempre haverá idéias e teorias diferentes.

E é exatamente por isso que não somos máquinas e nem robôres, somos simplesmente SERES HUMANOS, tentando e reinventando, umas vezes teorizando outras filosofando, ora acertando ora errando. Não importa...o importante é nunca perdermos a esperança de um dia encontrar o que procuramos. (CONSUUS)
...
Complexo verbo intransitivo?
Amar...
Um sentimento regido pelo entusiasmo, pelo desejo, pela projeção emotiva, pelo encontro de dois seres que se fundem numa perspectiva de prazer, de cumplicidade, de lealdade, de afeto. Encontros marcados pela intensidade, pela permissão de fugir da realidade e partir para uma dimensão íntima, inédita e de sabores. Um sentimento que integra sonhos, vidas, corpos... que podem durar um só instante, ou uma eternidade ou uma mera fase de descobertas, de encontros e desencontros. Pensando que o amor é algo que paira no campo da subjetividade, creio que reside aí, algo comum, a certeza de que sempre fica uma marca, uma espécie de tatuagem no coração. Passageiros, fortes ou fracos, de um dia ou de uma vida inteira, o amor possui a estranha magia de prender, de relembrar, de reviver e de guardar num cantinho especial dentro de cada um, todos àqueles que marcaram de uma forma especial e particular nossas vidas.

Ainda discorrendo sobre o subjetivo, o amor é regido também pelo um Q de mistério. Os reflexos que cada ser emite quando tomado por este sentimento avassalador (aqui certamente o conceito estaria mais vinculado a paixão, porém, podemos pensar o amor como um processo de maturação sofrida pela paixão - reflexões aleatórias / grifo pessoal) é sempre curioso, inovador, descontralador, porque inevitavelmente depende do entendimento de cada um, funciona como uma mesclagem de posessão, insegurança, medo, incertezas... talvez aqui o sexo exerça o papel de mero prazer, e poderíamos criar uma teoria que visa a satisfação da matéria, do corpo físico, totalmente desvinculado de um sentimento que caminha atrelado a emoção. O sexo seria uma prática racional, que atende ao desejo visual, da carne, do puramente físico. Certamente o sexo sobrevive separado do amor sim, porém, pensando no verbo intransitivo complexo, naquele conceito internalizado na cabeça dos românticos, o sexo seria a conseqüência do amor, porque este, assume a condição de algo perfeito, completo. Aquela teimosa esperança de encontrar o ideal construído e lapidado constantemente no nosso inconsciente, refletido na consciência quando nos deparamos com o possivel encontro de um novo amor, o novo que rouba todas as nossas atenções e sofre uma reprojeção dos nossos desejos...

Diria que há uma predisposição natural para amar, um desejo internalizado que vislumbra o encontro, a sexualidade, que pode chegar de forma tempestiva ou na calmaria, de surpresa, ou ser construído no diálogo do olhar, nas conversas regadas pelo um jogo de afinidades, de gentilezas e sutilezas, de sensualidade, nas entrelinhas de textos partilhados, em que há um entendimento comum, enfim, tenho a mania de afirmar que tudo acontece quando há permissão. Acreditar e permitir são os caminhos para descobrir e entender (subjetivamente) como a dualidade amor e sexo, exercem seus papéis na vida de cada um. (HODIE)

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Um abraço a vida...

"...O acaso tem seus sortilégios, a necessidade não. Para que um amor seja inesquecível, é preciso que os acasos se encontrem nele desde o primeiro instante..." Milan Kundera.

Metamofose

"Examine seu coração, observe se esta vontade de desistir não está ligada a questões e reações repetitivas, ligadas a problemas do passado, mas que em seu interior ainda não foram resolvidos e assentados em sua alma. Sempre é tempo de buscar restauração" (Ednilson Correia de Abreu)

Somos frutos de nossas experiências, nossos passos são medidos por situações vividas, por essa razão, toda experiência é válida, nos ajuda a crescer. A cada vez que nos permitimos viver e nos arriscamos a perdas e ganhos, estamos, inconscientemente, preparando-nos para enfrentar as adversidades. Quem não vive, não arrisca, e nunca vai estar pronto para os momentos difíceis. É como se fossemos um diamante que precisa de alguns processos para sair da forma bruta e revelar a sua beleza, processo esse, nem sempre confortável para nós, que adoramos nos auto proteger.

O passado costuma influenciar nossas atitudes, não queremos insistir nos mesmos erros, por isso com o tempo nos tornamos mais seletivos, mais criteriosos e menos inocentes. Chegamos até a ser argilosos. E que mal há nisso? È instinto de sobrevivência, é a lei que rege a natureza e os animais. Não é que algo precise ser restaurado, é que todo dia é diferente, sempre tem algo novo que nos faz evoluir, que nos faz refletir e que modela nosso ser, de maneira que não somos capazes de viver um dia após o outro e continuarmos sempre os mesmos...ninguém consegue essa proeza de passar pela vida permanecendo para sempre igual. (Consuus)

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Um Momento...

Leveza, sorrisos e saudades... sentimentos que tramitam no meu ser. Na empreitada do conhecer, balizada sempre pela minha recorrência, porém necessária afirmativa “de que tudo reside no campo da permissão” e que aliado a minha eterna teimosia de acreditar sempre, a VIDA acontece na expectativa do encontro, na ansiedade formatada de inúmeras maneiras, na construção de um momento, na comunhão de um beijo, na segurança de um abraço, na espontaneidade das palavras, no sorriso bobo, na linguagem do olhar, na fusão de corpos e no rolar de uma lágrima... os sentimentos avassaladores e tempestivos chegaram dessa vez em tons de calmaria... a natureza se revestiu pela magia do encanto e da sedução, virou platéia; os deuses conspiraram ao nosso favor; as projeções que pairavam no imaginário cedeu lugar a instantes reais; o prazer construído na atitude, dialogado na pele; a felicidade plenamente vivida no gesto e no toque... ah, o encontro! Encanto! Consolidado pela impregnação do cheiro... já não sou mais o mesmo, você agora é parte, é todo! No encontro perene da lembrança, consigo trazer-te para perto. E é tão bom, tão mágico... porque ficou... Eternizou... (HODIE)

terça-feira, 3 de junho de 2008

Almas que se encontram

Almas que se encontram...
(Paulo Fuentes)

Dizem que para o amor chegar...
Não há dia...
Não há hora...
E nem momento marcado para acontecer.

Ele vem de repente e se instala...
No mais sensível dos nossos órgãos...
O coração.

Começo a acreditar que sim...
Mas percebo também...
Que pelo fato deste momento...
Não ser determinado pelas pessoas...
Quando chega, quase sempre...
Os sintomas são arrebatadores...
Vira tudo às avessas...
E a bagunça feliz se faz instalada.

Quando duas almas se encontram...
O que realça primeiro...
Não é a aparência física...
Mas a semelhança das almas.

Elas se compreendem...
E sentem falta uma da outra....
Se entristecem...
Por não terem se encontrado antes...
Afinal tudo poderia ser tão diferente.

No entanto sabem que o caminho é este...
E que não haverá retorno...
Para as suas pretensões.

É como se elas falassem além das palavras...
Entendessem a tristeza do outro...
A alegria e o desejo...
Mesmo estando em lugares diferentes.

Quando almas afins se entrelaçam...
Passam a sentir saudade uma da outra...
Em um processo contínuo de reaproximação...
Até a consumação.

Almas que se encontram...
Podem sofrer bastante também...
Pois muitas vezes...
Tais encontros acontecem...
Em momentos onde não mais podem extravasar...
Toda a plenitude do amor...
Que carregam, toda a alegria de amar...
E de querer compartilhar a vida com o outro...
Toda a emoção contida...
À espera do encontro final.

Desejam coisas que se tornam quase impossíveis...
Mas que são tão simples de viver...
Como ver o pôr-do-sol...
Ou de caminhar...
Por uma estrada com lindas árvores...
Ver a noite chegar...
Ir ao cinema e comer pipocas...
Rir e brincar.

Brigar às vezes...
Mas fazer as pazes...
Com um jeitinho muito especial.

Amar e amar, muitas vezes...
Sabendo que logo depois...
Poderão estar juntas de novo...
Sem que a despedida se faça presente.

Porém muitas vezes...
Elas se encontram em um tempo...
E em um espaço diferente...
Do que suas realidades possam permitir.

Mas depois que se encontram...
Ficam marcadas...
tatuadas...
E ainda que nunca venham a caminhar...
Para sempre juntas...
Elas jamais conseguirão se separar...
E o mais importante ...
Terão de se encontrar em algum lugar.

Almas que se encontram...
Jamais se sentirão sozinhas...
Porquanto entenderão, por si só...
A infinita necessidade...
Que têm uma da outra para toda a eternidade.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Quando o trem passar...

"...podemos ter medo e simplesmente dizer não. Mas podemos nos deixar encantar: seremos, para sempre, responsáveis por essa decisão." Lya Luft (Elo conectivo).

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Somos meramente responsáveis por nossas ações e co-participes dos sentimentos nascidos cá dentro. Nada chega assim de supetão, nós é que vamos nos permitindo, nos envolvendo. Mesmo sabendo dos riscos, seguimos em frente, razão porquê depois não podemos culpar outrem por nossas atitudes descompassadas, afinal, quem diz o compasso somos nós, o trem não sai do trilho sozinho, alguém tem que mudar o sentido dos trilhos e nós, inconscientes, não sei, é que mudamos os rumos e os sentidos dos caminhos que levam a porta de entrada e de saída do nosso coração. (Pulcra)


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Dizer NÃO pode ser uma tarefa difícil se considerarmos o encantamento inevitável do começo, da conquista, da fantasia... por isso, por mais que possa parecer insensato, por mais que estejamos fadados ao risco da decepção, permitir é acima de tudo acreditar... nesse caso, ficar na estação é a certeza de não embarcar na descoberta, na possibilidade, enquanto embarcar nesse trem, é se engajar nas novas paisagens que serão coloridas a partir dos nossos desejos e sonhos... e assim vamos nos deparando com as encruzilhadas e tecendo nossos próprios trilhos. Responsabilizar-se por estas medidas serão os reflexos dessa decisão, que assim como podem ser de fracasso ou mágoa também podem ser de prazer, muito prazer... sabe aquela viagem recheada de expectativas, construída com o tempo e que falta simplesmente o desprendimento do passageiro? Pois é, decidir mesmo tomado pelo medo do embarque, torna-se simplesmente mais uma tentativa incansável do encontro. E nessas viagens caro tripulante, os riscos existem, mas a descoberta, a partilha e o gosto ofertados pelo percurso são demasiadamente valiosos. (Hodie)


...


Ficar na estação e deixar o bonde passar, também não é uma boa. Subir no trem e pular no meio do caminho, pior ainda. Eu comungo com a idéia de que embarcar, sujeitando-se aos riscos da viagem e o encantamento das descobertas ainda seja a melhor escolha. É muito boa à sensação de preparar as malas, de visualizar-se no momento da chegada, a expectativa de vislumbrar o que antes só estava em nossos sonhos. O frio na barriga, a ansiedade, a empolgação de um começo, ou talvez um recomeço. E por que não? Se a paisagem ficar desbotada no final da viagem, qual o problema? No ensaio fotográfico, guardaremos somente no álbum das lembranças as primeiras fotos, aquelas que ficaram bem coloridas.... (Pulcra)

terça-feira, 20 de maio de 2008

Preso

Preso a uma lembrança, a uma saudade...
Ao lado do mar, a beira-mar, na areia da praia, na cozinha do apartamento, na sala de estar, no banheiro, no quarto de casal, no quarto! No chão, na cama, no hotel, na piscina, no deserto de domingo à tarde, no centro da cidade, no balanço da rede, na faculdade, no luar.

Preso a um desejo, a um beijo...
Ousado, reprimido, vivido... Constante, avassalador, tentador... Roubado, amante, marcante... Presente, ausente, real...

Preso a um sonho, a uma imaginação...
Para um retorno, um recomeço, uma nova história, cantar a vitória! Resgatar, reacender, compreender, não mais sofrer, querer, ter e fazer... Amar, fantasiar, vivenciar, alimentar, ao deitar e no levantar, “infinitar” (tornar infinito). HODIE

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Metalinguagem

Estou tentando ter algum daqueles “insides” que, segundo o professor, surge sempre que nos colocamos a disposição de criar um texto.
Percebo que trata-se de uma tarefa complicada, minha vontade é de escrever um montão de bobagens, todavia a minha consciência não permite que eu cometa tal postura. Então penso que devo fazer como aprendi: laborar bem meu texto. Procurar fazer vir a luz, tudo aquilo que encontra-se no meu eixo paradigmático de idéias. E dessa maneira produzir algo lúdico, coerente e repleto de sintágmas construtivos. Um texto que extrapole o conhecimento e que seja gostoso de se ler.
Porém confesso, não é nada fácil! Acredito até que não estou inspirada, mas não custa nada tentar...já percebi que não vou conseguir exprimir nada do que imaginei, agora posso entender o que sentiu Bilac quando escreveu o poema Inania verba...“E a palavra pesada abafa a idéia leve”.
Entretanto, já que os lexemas não querem bailar, vou tentar ser fria e racional. Primeiro tenho que escolher um tema.
Semana passada, quando passei pela biblioteca, folheei rapidamente um jornal que trazia logo na manchete: SUPERLOTAÇÃO NA UTI DO IJF. Triagem de pacientes por expectativa de vida e por estado de gravidade. Imediatamente lembrei dos debates de Deontologia Jurídica sobre Pena de Morte e Eutanásia. E diante da Manchete pensei. Ah Meu Deus! Hoje no IJF vão praticar a Eutanásia!
A Eutanásia não é legalizada no Brasil, inclusive é crime. Segundo as Leis Brasileiras, nenhum paciente, por mais delicado que seja seu estado, poderá optar pela morte, porque é crime contra a vida. Incorre no Art. 121 do Código Penal (Homicídio – pena de 06 a 20 anos de reclusão). Embora nos hospitais públicos, os médicos escolhem, diariamente, quem vai morrer e quem vai viver.
Existem dois tipos de Eutanásia: o Homicídio Piedoso, que ocorre sem o consentimento do paciente, que encontra-se em estado vegetativo, porém com o consentimento da família. Lembrando que esse paciente é avaliado por uma junta médica, que atesta se realmente há incapacidade de cura. E o outro tipo é o Suicídio Assistido, este é autorizado pelo paciente e pela família. Ocorre quando os médicos testificam que o paciente tem uma doença incurável e que o tratamento já não responde como deveria.
Esses procedimentos já foram legalizados em alguns países como Bélgica e Holanda. No Brasil existe um Projeto de Lei tramitando na Câmara, que favorece a eutanásia, mas enquanto isso não acontece, morre gente diariamente nos hospitais por falta de atendimento apropriado. A diferença é que tudo ocorre clandestinamente e o que é pior; sem junta médica, sem consentimento do paciente e tão pouco da família.
A primeira vez que ouvi alguém defender a Eutanásia, achei um absurdo! A maioria dos assuntos da bioética são realmente polêmicos. Conclui como uma violação ao direito à vida. Mas depois percebi que em proporções bem maiores esse direito há muito, não é respeitado por aqui. Será que ninguém percebe a hipocrisia que há por trás da bela Legislação? No papel, tudo é etéreo, entretanto na prática o que podemos constatar são bebês morrendo prematuramente, por falta de UTI´s Neo-Natal; mendigos sendo assassinados porque enfeiam as cidades; idosos morrendo por falta de condições financeiras para comprar medicamentos; jovens caminhando precocemente para a morte, fadados ao mundo das drogas, da prostituição e do crime. Será que não estamos sendo um tanto contraditórios ao declarar em nossa Legislação que preconizamos o DIREITO À VIDA?
Como podemos nos posicionar contra a Eutanásia e ao mesmo tempo permitir incólumes toda essa violação decorrente dos problemas sociais? Seria, numa comparação esdrúxula, o mesmo que dizer: não como carne suína, todavia não dispenso um suculento bacon. Puro eufemismo!
Talvez tenha sido por essa razão que não consegui escrever nada assim tão belo, só consternar a minha revolta. È muito difícil ser bucólica, romântica ou parnasiana diante de tantas adversidades. Como perseguir a Rima e a Forma se nesse País quase tudo foge a Métrica? (Consuus)