PARA NÃO ME PERDER NO DISCURSO DO OUTRO, DO PRÓXIMO, TENTO ENCONTRAR O MEU.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Ao Entardecer

"... tente ser feliz (...), somos criaturas misteriosas, (...) eu deveria ter ido velejar (...) é a nossa estrela (...), ainda preciso te dizer algo (...) as pessoas do passado podem ser reais ou não (...), não, fizemos o que tinha que ser feito ..." esses são alguns fragmentos de texto dos diálogos narrados no filme "ao entardecer" dirigido por Lajos Koltai, drama baseado no popular livro de Susan Minot. Conto vivido em dois tempos, reúne uma geração de mulheres, duas grande amigas na juventude e o reencontro nos dias de hoje. Diria que o filme está próximo da perfeição, além de muito emocionante, ele nos provoca principalmente uma releitura diante da vida, o que fazemos com a nossa história, como lidamos com o nosso destino, com os amores, com o medo, com a insegurança. Retrata fielmente como nos comportamos diante dos fatos e dos sentimentos, instiga a reflexão, insulta nossas atitudes, nossos valores e princípios. Uma narrativa que convoca, aliás, evoca o repensar, o reconsiderar. A história revivida por Ann, quando já debilitada em seu leito ao lado de suas duas filhas, marca de uma forma muita especial as minhas sensações. A sensação de que diante da impotência resta-lhe apenas as lembranças de toda uma vida, marcada por suas exigências, que sem direito a ensaios se tece ao longo da nossa história... é chegado o momento de retratar apenas tudo que se passara, e diante dos questionamentos a chave que transforma a vida de suas filhas e porque não naquele instante a sua própria. Questionar e narrar toda a sua história, pode representar dor, angústia, arrependimento pelas coisas não vividas, mas prefiro entender que o relato se aproxima também da necessidade de reconhecer e admitir que tudo que fazemos durante a vida, as decisões tomadas, os caminhos abraçados, deixar-se levar pelo percurso das águas, respeitando a torrente, são resultados assertivos de escolhas que "pareciam" naquele momento o melhor, visto que o destino por vezes se reveste de uma força e de uma capacidade impositiva. E assim somos todos nós, resultados de encontros, despedidas e segredos... memórias! Relatos de uma vida, de construções inacabadas e principalmente de redescobertas, de aprendizagens. Lembro-me de alguém que parafraseando Milan Kundera me dizia: "todos nós temos a necessidade de ser olhados", e assim fugindo de que: "Eu não tenho missão. E é um alívio imenso perceber que somos livres, que não temos missão" do mesmo autor, que o que realmente vale nessa vida é o instante que passa e que este deve ser construído na espontaneidade, na temporalidade. (HODIE)

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