Outro dia deparei-me com o pensamento do sábio personagem, jagunço Riobaldo (Grande Sertão Veredas) que dizia: “O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia” e dessa forma comecei a construir algumas idéias inacabadas. Os sonhos, as projeções futuras serão sempre canalizadoras de nossas ações. Viver é um processo natural, porém, o destino se encarrega de apresentar desafios e direcionar alguns caminhos, segui-los ou não são opções livre, assim como devem ser nossas atitudes... pensando na arbitrariedade, e no quanto é bom e amadurecedor viver assim, tenho a ligeira impressão que a saída e a chegada realmente desempenham papéis simplórios, banais. Existem apenas porque é necessário, porque simplesmente precisamos de justificativas. Usando novamente minha arrogância, diria que muitos optam por trilhar suas vidas pelos atalhos, por alternativas que até os levam a um ponto de chegada sim, sem maiores ferimentos, mas incapazes de descobrirem sabores... preferem não amar a correr os riscos tempestivos e intensos da paixão; preferem o refúgio da casa a ousarem desvendar a rua; uma vida morna e tranqüila a invasão que o destino propõe; o conforto da dor a busca de alternativas; o sofrimento medíocre por medo de lutar... permitam-me usar o velho jargão já gasto “quem brinca com fogo pode se queimar”, mas atravessar é a única oportunidade de se descobrir, de crescer, de amadurecer. A travessia é sem dúvidas o enredo mestre que conduz a vida, é nela que o universo de descoberta acontece, o real assume seu posto e rouba-nos o imaginário, a fantasia, daí tamanha importância estarmos inseridos nessa perspectiva para conhecermos a fortaleza que tem nossa fúria, a exigente postura sensata e equilibrada enraizada pelas experiências vividas, pelo prazer modelado e lapidado ao nosso gosto, compreender o medo, conhecer a insegurança, descobrir que a dor é suportável, que é possível conviver com a perda, que ganhamos muito mais do que perdemos, que a felicidade existe, que o sofrimento é inevitável, a tristeza é passageira, a alegria contagiante e principalmente, que tudo reflete no hoje quem sou. Infiltrados, instigados, desafiados e reconstruídos na travessia, sofremos uma formatação balizada pelas dúvidas, instabilidades e pelo desconhecido que deságua numa fecundação, gera e dá a luz ao novo. Encare a travessia, desafie – isso me parece uma proposta sensata – como tão bem retrata o poeta Pessoa: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”. (Hodie)
PARA NÃO ME PERDER NO DISCURSO DO OUTRO, DO PRÓXIMO, TENTO ENCONTRAR O MEU.
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