"... tente ser feliz (...), somos criaturas misteriosas, (...) eu deveria ter ido velejar (...) é a nossa estrela (...), ainda preciso te dizer algo (...) as pessoas do passado podem ser reais ou não (...), não, fizemos o que tinha que ser feito ..." esses são alguns fragmentos de texto dos diálogos narrados no filme "ao entardecer" dirigido por Lajos Koltai, drama baseado no popular livro de Susan Minot. Conto vivido em dois tempos, reúne uma geração de mulheres, duas grande amigas na juventude e o reencontro nos dias de hoje. Diria que o filme está próximo da perfeição, além de muito emocionante, ele nos provoca principalmente uma releitura diante da vida, o que fazemos com a nossa história, como lidamos com o nosso destino, com os amores, com o medo, com a insegurança. Retrata fielmente como nos comportamos diante dos fatos e dos sentimentos, instiga a reflexão, insulta nossas atitudes, nossos valores e princípios. Uma narrativa que convoca, aliás, evoca o repensar, o reconsiderar. A história revivida por Ann, quando já debilitada em seu leito ao lado de suas duas filhas, marca de uma forma muita especial as minhas sensações. A sensação de que diante da impotência resta-lhe apenas as lembranças de toda uma vida, marcada por suas exigências, que sem direito a ensaios se tece ao longo da nossa história... é chegado o momento de retratar apenas tudo que se passara, e diante dos questionamentos a chave que transforma a vida de suas filhas e porque não naquele instante a sua própria. Questionar e narrar toda a sua história, pode representar dor, angústia, arrependimento pelas coisas não vividas, mas prefiro entender que o relato se aproxima também da necessidade de reconhecer e admitir que tudo que fazemos durante a vida, as decisões tomadas, os caminhos abraçados, deixar-se levar pelo percurso das águas, respeitando a torrente, são resultados assertivos de escolhas que "pareciam" naquele momento o melhor, visto que o destino por vezes se reveste de uma força e de uma capacidade impositiva. E assim somos todos nós, resultados de encontros, despedidas e segredos... memórias! Relatos de uma vida, de construções inacabadas e principalmente de redescobertas, de aprendizagens. Lembro-me de alguém que parafraseando Milan Kundera me dizia: "todos nós temos a necessidade de ser olhados", e assim fugindo de que: "Eu não tenho missão. E é um alívio imenso perceber que somos livres, que não temos missão" do mesmo autor, que o que realmente vale nessa vida é o instante que passa e que este deve ser construído na espontaneidade, na temporalidade. (HODIE)
PARA NÃO ME PERDER NO DISCURSO DO OUTRO, DO PRÓXIMO, TENTO ENCONTRAR O MEU.
terça-feira, 28 de outubro de 2008
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Reconstrução
O sentido das marés corre ao balanço da vontade do criador. É inútil tentar mudar nossos caminhos, quando a maré nos leva para sentidos opostos. Seria muito mais fácil se pudéssemos desenhar as coisas à nosso bel prazer, mas não somos os donos do mundo e nem tampouco temos o poder de mudar o curso das águas. Nossos atos as vezes nos afastam de quem mais amamos, quando na verdade tudo que queríamos era tê-los por perto. É fácil trazer para si o que não é real e nem verdadeiro, é fácil se auto enganar como uma forma de substituir, de suprir a ausência, de buscar o novo, pela necessidade humana de reconstrução. Difícil mesmo é trazer para nós aquilo que verdadeiramente nos completa. Somos, muitas vezes fadados a aceitar com resignação que nosso barco navegue no sentido das águas que a maré nos impõe, porque não se pode lutar contra as correntezas, não se pode navegar em sentido contrário. Duro mesmo, é seguir viagem, mesmo sabendo que aquele não era o desejo do nosso coração. Mas no amor há desencontros e não há porque sofrer, não há porque lamentar... o nosso destino é traçado... o que tem de ser, um dia será. Ao final resta o estar otimista, encarar a vida de braços abertos. Esperar que o sentido das marés, na beleza do mar, que leva nosso barquinho, tenha um propósito ou uma estratégia especial que nos direcione a algo bem maior do que tudo que um dia sonhamos. (PULCRA)
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Sexta-Feira!
Mais uma sexta-feira que se aproxima, sextas-feiras que trazem a tua imagem multifacetada... São lembranças e saudades configuradas nos encontros e partidas, carícias, palavras e salivas que permearam as intensas noites de sexta. É na sexta que a tua ausência se faz mais presente no inimaginável, é na sexta que cores e brilhos perdem a vitalidade. Sexta era sentido, era direção! Milan Kundera sugeria que "quando nos defrontamos com alguém que é amável, atencioso e delicado, é muito difícil ficar convencido a cada instante de que nada do que é dito é verdadeiro, de que nada é sincero". Reside aqui a teimosia de estar totalmente preso as tuas posturas que pareciam sinônimos de sinceridade... reside aqui a esperança reconstruída em cada sexta, porque nela está contida nossas promessas, sonhos e desejos, é na sexta que comungamos (n)a saudade... tem sido doloroso e difícil arrostar o amanhã, o amanhã que é sexta-feira, é isso... Ela tem sido acima de tudo contristada. Sei que é necessário e possível recolorir as sextas, reencontrar suas formas, reconstruí-la em sentido, aliás, se faz necessário acima de tudo reformatá-la, criar novas conotações... Sexta-feira requer renascimento como sabiamente descreve Lya Luft: "então algo mudou: o tom da voz, o olhar que se esquiva, a mão que se afasta. A porta precisa ser fechada, a ponte levantada, queimados os navios. Levaremos meses, anos estendendo as mãos para um vazio, interrogando uma ausência. Encarar a realidade é um modo de morrer. Mas sem isso, não haverá renascimento". (HODIE)
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Mundo novo, vida nova
Os versos do mestre Gonzaguinha, "buscar um mundo novo, vida nova / e ver, se dessa vez, faço um final feliz..." *, me remete a idéia de que o novo se configura principalmente no desejo enraizado de acertar, da possibilidade de construir algo sólido, maduro, consistente! Vida nova conota-se pela abertura de enveredar-se em novos caminhos, sejam eles profissionais ou afetivos. Inspirado nas leituras e conversas cotidianas, diria que vida nova projeta-se exatamente na busca da primeira impressão, da saudade, do desejo de amar e se ratifica no como é difícil essa assertiva, considerando que vivemos no século da presa, do transitório, da fuga de responsabilidades, da falsa idéia de auto-suficiência... mortificados pela ansiedade, queimamos etapas, promovemos desencantos, restando apenas sintomas de solidão e de impotência... para impressões é necessário sensibilidade, franqueza no olhar, sinceridade no toque, requer acima de tudo a gentileza e a sutileza da palavra... é preciso deixar aflorar e prevalecer o que há de bom nessa matéria humana, por vezes, contraditória! É libertar-se das fraquezas, das tentativas anteriores que foram sinônimos de insucesso e depositar a esperança no novo, na vida e a cada instante vivê-la de forma intensa, verdadeira, porque certamente o final feliz, como sugere a canção, reside no instante que passa, e este deve(ria) ser perene... "... em forma, jeito, luz e cor..." ** (HODIE)
*Fragmentos da música: mundo novo, vida nova.
** Idem. Gonzaguinha - CD de Elis Regina - Saudades do Brasil
*Fragmentos da música: mundo novo, vida nova.
** Idem. Gonzaguinha - CD de Elis Regina - Saudades do Brasil
Invadir
Invasão para quando as portas se fecharam e você ficou sem explicação. Mas se for invadir, não seja covarde, essa pode ser a sua última oportunidade. Diga que ainda deseja ficar. A vida é breve, as conclusões são rápidas, quando as portas estão se fechando, é o milímetro mais valioso que o metro, portanto não fique estático, siga! Mesmo que o caminho não seja o mais reto. (PULCRA)
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
O verbo...
Eu escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível. Fixava vertigens. (Arthur Rimbaud)
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Algumas vezes o amor te faz tatear no escuro, tu o sentes e tu o vives, tu consegues respirá-lo. A tua idealização é tamanha, que o teu amor te basta. Sem que tu percebas, tu estás vivendo tudo sozinho; amando sozinho, sentindo sozinho. Até que esse amor te faz perder o sono na busca de algo que te explique os porquês. E é no silêncio da noite que tu consegues te transpor para o intransponível, ao escutar a voz abafada do teu coração enfermo, fadado a vivenciar a cina dos românticos; hora essa, em que tu te superas, tentando exprimir o inexprimível; coisas que só existem na tua imagem vertificada. Por todo esse processo doloroso tu passas, até te dares conta de que amar é um verbo que não se conjuga sozinho (Pulcra)
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Outro dia falávamos que o verbo amar é um verbo intransitivo e hoje, a conclusão de que é impossível conjugá-lo sozinho. É necessário que haja fusão, comunhão de corpos, desejos, ideais... nas aventuras do conhecer, quando estamos dispostos a aprimorar nossos sentimentos, quando permitimos construir o amor, nutrir sentimentos, é perfeitamente natural tatear-se na escuridão, é descobrir e redescobrir-se, é permear-se no contraditório, é como ter alegria e sentir dor, angústia e cor, é reencontrar-se na saudade, vestígios de lembranças fragmentadas... prender no mesmo jugo, ou seja, dissecar o verbo não é tarefa de primeira pessoa, é para o nós... é muito bom ser romântico, ser poeta, embora certamente estejamos fadados a nunca encontrar o amor que almejamos, que acreditamos e que idealizamos. Para nós, o conceito de amor é transcendente, sublime. E será sempre movido por este entendimento, ancorado pela esperança que passaremos por novos processos dolorosos, novas experiências carregadas de expectativas, encantamentos e paixões numa incessante busca de encontrar a essência... (Hodie)
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Algumas vezes o amor te faz tatear no escuro, tu o sentes e tu o vives, tu consegues respirá-lo. A tua idealização é tamanha, que o teu amor te basta. Sem que tu percebas, tu estás vivendo tudo sozinho; amando sozinho, sentindo sozinho. Até que esse amor te faz perder o sono na busca de algo que te explique os porquês. E é no silêncio da noite que tu consegues te transpor para o intransponível, ao escutar a voz abafada do teu coração enfermo, fadado a vivenciar a cina dos românticos; hora essa, em que tu te superas, tentando exprimir o inexprimível; coisas que só existem na tua imagem vertificada. Por todo esse processo doloroso tu passas, até te dares conta de que amar é um verbo que não se conjuga sozinho (Pulcra)
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Outro dia falávamos que o verbo amar é um verbo intransitivo e hoje, a conclusão de que é impossível conjugá-lo sozinho. É necessário que haja fusão, comunhão de corpos, desejos, ideais... nas aventuras do conhecer, quando estamos dispostos a aprimorar nossos sentimentos, quando permitimos construir o amor, nutrir sentimentos, é perfeitamente natural tatear-se na escuridão, é descobrir e redescobrir-se, é permear-se no contraditório, é como ter alegria e sentir dor, angústia e cor, é reencontrar-se na saudade, vestígios de lembranças fragmentadas... prender no mesmo jugo, ou seja, dissecar o verbo não é tarefa de primeira pessoa, é para o nós... é muito bom ser romântico, ser poeta, embora certamente estejamos fadados a nunca encontrar o amor que almejamos, que acreditamos e que idealizamos. Para nós, o conceito de amor é transcendente, sublime. E será sempre movido por este entendimento, ancorado pela esperança que passaremos por novos processos dolorosos, novas experiências carregadas de expectativas, encantamentos e paixões numa incessante busca de encontrar a essência... (Hodie)
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