PARA NÃO ME PERDER NO DISCURSO DO OUTRO, DO PRÓXIMO, TENTO ENCONTRAR O MEU.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

A epifania do sentir

Às vezes, sem que haja uma razão específica, objetiva e clara, sentimos a necessidade de relatar algo que estamos sentindo ou que vivenciamos ou que ora simplesmente imaginamos... é neste sentido que construo nesse instante meu pensamento itinerante. Sempre mantive uma profunda relação com as palavras, porque expressar é externalizar um sentimento através de um recurso que ratifica, eterniza um momento real ou meramente imaginário... mas uma vez recorro a expressão imaginação e como dissera, mantenho uma relação de afeto com as palavras, porém, o substantivo imaginação e o verbo imaginar me impõem tamanho respeito. O dicionário nos ensina que imaginar, do latim imaginare significa criar; conceber; fantasiar; inventar; engendrar e pensar - Pelo atalho do pensamento numa perspectiva imaginária podemos construir um mundo de sonhos e habitar por instantes "reais" a projeção de nossos ideais, conhecer lugares, desvendar mistérios, ouvir palavras de afeto, fazer promessas, sentir-se maduro, realizado, está com alguém, trocar intimidade com esse alguém, comungar cheiros... talvez o sonho que outrora tive nessa madrugada seja simplesmente a transferência imaginária, cismada, engendrada na possibilidade do real, essa fantasia permeada pelo irreal sinaliza a manifestação de um desejo concreto, palpável porque há você, há a esperança, há a história, há o conflito, há principalmente o "eu" que se figura em cada manifestação subreal, infiltrado na essência, na reprojeção, no espelho, no Outro... a capacidade interativa do discurso, da realização, da satisfação plena é alcançado no submundo imaginário, porque ele torna-se cúmplice, aliado. Essa viagem transfigurada e metaforizada pela criação promove acima de tudo o enriquecimento do ego, a afirmação de que sempre vale apena acreditar nas possibilidades - é conhecer fisicamente algo ou alguém que ainda divaga na força do pensamento - fixado pela imagem (um lugar), pela sonoridade da voz (de alguém)! A imaginação que se traduz na força embrionária da descoberta, do prazer, do trazer, do sentir... (Hodie)
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Não há dúvidas que é na imaginação que se encontram nossos maiores devaneios e por mais que os sonhos estejam fora da perspectiva do real, existe algo dentro de nós que aproxima essas esferas, tornado-as quase palpáveis. Embora seja um ato considerado natural, o imaginar requer muita coragem. Essa epifania que resgata momentos, que realiza desejos guardados a ermo em escrutínios secretos da nossa mente, nos transporta a um lugar só nosso, onde tudo é possível, desde que esse "tudo" não venha a contrariar nossas ansiedades. Pode parecer algo maravilhoso e na verdade é. A felicidade que essas viagens nos proporcionam é tão grande, que temos que estar preparados para à volta ao mundo real, já que a constatação que marca a trajetória do sonhar, algumas vezes é fria, dura e cruel. Sentir algo muito bom, paradoxalmente, gera sentimentos de angustia e frustração, quando se chega à conclusão que ao final desse emaranhado de idéias volitivas, o que temos é a terrível sensação de algo inacabado e a inevitável esperança que o irreal alcance a concretude, antes tão visível e tão profundamente vivida no campo do imaginário. E nessa hora é possível trazer à tona uma certa admiração por aqueles que fogem a essa sensação; que se escondem dentro de uma couraça, não se permitindo sonhar, com o intuito de proteger-se, a fim de não ter que possuir algo por alguns minutos que poderiam ser eternizados e que, ao contrário, se é retirado bruscamente. O pensamento se firma na idéia de que é melhor não ter, do que ter e perder. No entanto quem é verdadeiro sonhador sabe que sempre valerá a pena cair de uma nuvem, simplesmente pelo imensurável prazer de voar. (Consuus)





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