PARA NÃO ME PERDER NO DISCURSO DO OUTRO, DO PRÓXIMO, TENTO ENCONTRAR O MEU.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Encontros e Reencontros



Final de tarde em Teresina. O sol brilha com vitalidade em sua cena diária de adeus na bela margem dos encontros dos Rios Parnaíba e Poti no clima tropical predominante no centro-norte piauiense. Contemplo esse espetáculo da natureza e como sempre meu pensamento pulsa num processo recorrente de lembranças e reflexões. No rio, além do reflexo solar, os barcos de pesca transitam num movimento de vai e vem, um contraluz incrível que permite o anonimato dos personagens do cotidiano. Pedras configuram ainda este cenário carregado de magia e encanto. Os tons alaranjados no céu, o sol findo entre as rochas, a escuridão que se anuncia mesclam as cores que revelam a identidade de cada um dos rios. O encontro fusão é verificado pela diversidade, considerando que cada rio, assim o cada um de nós, traz uma característica única, um luz individual, uma cor transitória, mutável de acordo com as relações, seja social, afetiva ou profissional. O rio segue perene o seu percurso, encara barreiras, ultrapassa os mistérios profundos, pigmenta texturas e se encontra com outro rio, para juntos partirem em rumo dos mares.


Assim, somos todos nós, resultado dos encontros, e são tantos ao longo da caminhada. Encontro com o porteiro do condomínio, com o atendente na padaria, com a criança faminta que na rua insiste por um trocado, enfim... levaria páginas retratando tantos encontros, na verdade, meu desejo reside na ideia de pensar e refletir sobre as lições que cada encontro, tem a capacidade de ensinar. Ontem por exemplo, antes de dormir te encontrei no silêncio da noite, no sonho da madrugada, no telefonema de hoje cedo. Foi dessa forma que amenizei a saudade... No percurso do trabalho, encontrei as pessoas nas ruas, os carros parados nos sinais em vários sentidos e direções, certamente rumando para mais um dia em que obrigações serão executadas. Na lanchonete do trabalho ou da esquina, encontrei grupos e grupos partilhando instantes de suas vidas de forma metódica e imperceptível. E foi assim que surgiram questionamentos: Porque não perceber e extrair tudo que o encontro pode provocar? Porque as pessoas, os lugares, as sensações tantas vezes nos passam tão despercebidas?


Quando mirei a harmonia contínua dos rios, surgiu a necessidade de entender a essência e quão fundamental existe na partilha necessária do encontro e porque não, do reencontro! Seria sabedoria extrair sempre de cada instante vivido o fortalecimento que por natureza tem-se efetivamente no encontro de determinadas circunstâncias, e assim, torna-se forte, coeso, exatamente como acontece com os rios.


Minha memória, nunca traiçoeira, transporta-me para o mundo imagético de cada encontro que marcou de forma singular meu percurso de águas. Lembro-me de cada fusão, dos olhares, da ansiedade, do nervosismo quando a mistura sinalizava não só traços da personalidade no diálogo fluído, mas principalmente no encontro de carnes, em que mente e corpo comungavam um conceito unilateral.


O impacto e ao mesmo tempo a congregação dos rios, uma força imbatível constituída, metaforizou aquele nosso encontro, o mais recente, por isso talvez o mais marcante. Corpos antes segregados, que pela percepção dos rios, também se fundiram no propósito pactual do desejo, da vitalidade, da força e da esperança.


Agora já é noite, preciso de licença, hora de voltar para o calor da cama.(Hodie)


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