Final de tarde
Assim, somos todos nós, resultado dos encontros, e são tantos ao longo da caminhada. Encontro com o porteiro do condomínio, com o atendente na padaria, com a criança faminta que na rua insiste por um trocado, enfim... levaria páginas retratando tantos encontros, na verdade, meu desejo reside na ideia de pensar e refletir sobre as lições que cada encontro, tem a capacidade de ensinar. Ontem por exemplo, antes de dormir te encontrei no silêncio da noite, no sonho da madrugada, no telefonema de hoje cedo. Foi dessa forma que amenizei a saudade... No percurso do trabalho, encontrei as pessoas nas ruas, os carros parados nos sinais em vários sentidos e direções, certamente rumando para mais um dia em que obrigações serão executadas. Na lanchonete do trabalho ou da esquina, encontrei grupos e grupos partilhando instantes de suas vidas de forma metódica e imperceptível. E foi assim que surgiram questionamentos: Porque não perceber e extrair tudo que o encontro pode provocar? Porque as pessoas, os lugares, as sensações tantas vezes nos passam tão despercebidas?
Quando mirei a harmonia contínua dos rios, surgiu a necessidade de entender a essência e quão fundamental existe na partilha necessária do encontro e porque não, do reencontro! Seria sabedoria extrair sempre de cada instante vivido o fortalecimento que por natureza tem-se efetivamente no encontro de determinadas circunstâncias, e assim, torna-se forte, coeso, exatamente como acontece com os rios.
Minha memória, nunca traiçoeira, transporta-me para o mundo imagético de cada encontro que marcou de forma singular meu percurso de águas. Lembro-me de cada fusão, dos olhares, da ansiedade, do nervosismo quando a mistura sinalizava não só traços da personalidade no diálogo fluído, mas principalmente no encontro de carnes, em que mente e corpo comungavam um conceito unilateral.
O impacto e ao mesmo tempo a congregação dos rios, uma força imbatível constituída, metaforizou aquele nosso encontro, o mais recente, por isso talvez o mais marcante. Corpos antes segregados, que pela percepção dos rios, também se fundiram no propósito pactual do desejo, da vitalidade, da força e da esperança.
Agora já é noite, preciso de licença, hora de voltar para o calor da cama.(Hodie)